sexta-feira, 5 de junho de 2009

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Para onde foi aquele pássaro?
Como foi que deixou
esse céu azul?

Fora ele banhar no mar?
Ou terá partido para
o infinito sul?

O que aconteceu
com suas penas, tão
diversas e coloridas?
Estarão elas unidas em abrigo,
ou estarão só, pensando
em suas famílias?

Diga-me pássaro:
Como foi que seu bico
parou de respirar?
Quando foi que
perdeste o instinto
e desaprendeu a voar?

Algo sábio como tu
não pode nos deixar
sem resposta. Enquanto
a angústia nos corrói...

Enquanto esperamos-te na costa...

Para onde foi
aquele pássaro?
Quem poderá descobrir?

Estará ele esperando
por nós, ou, brutalmente,
deixou de existir?


Por 228 minutos de silêncio

terça-feira, 2 de junho de 2009

Melhor lugar

Se fosse por mim
Eu ficava
Mas vê como tudo lá fora mudou
O tempo passou
Feito um louco
Quebrando as vidraças
E a gente ficou
Aqui, sem ter bem pra onde ir,
Por medo ou preguiça
Aqui, ilhado por nós
Sequer rastreados por nem um radar
Aqui parecia ser o melhor lugar

Quem disse que a gente precisa
Perder um ao outro pra se encontrar
Se nada nos prende ao passado
Não é o futuro que vai separar

Enfim,
Encosta seu barco em mim
Que o sol já se pôs
A sós
O mundo termina
Na fina fronteira dos nossos lençóis
Em nós
Espalham-se os laços
Desfazem-se os nós

Sonhamos paisagens, compramos passagem
E nunca voamos pra lá
Enfim
Passeia sua boca em mim
Até me calar
Aqui ainda parece o melhor lugar

Jorge Vercilo e Dudu Falcão

segunda-feira, 1 de junho de 2009

...poemas que roubei...

Reservado para poemas que adoro...
Poemas de grandes artistas, de outras pessoas, que acabei roubando pra mim...
~~~~~***~~~~~
Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manoel Bandeira